O Manifesto
O Manifesto Surrealista foi publicado pelo escritor francês André Breton em 1924, introduzindo ao mundo um novo modo de encarar a arte.
Seguindo o dadaísmo, movimento que propunha a oposição a qualquer tipo de equilíbrio, o surrealismo impôs o chamado automatismo psíquico, um "estado puro" no qual se buscava transmitir verbalmente, por escrito ou por qualquer outro meio, o funcionamento do pensamento, sem qualquer controle exercido pela razão e alheio a preocupações estéticas ou morais.
Neste manifesto, são declarados os princípios surrealistas, tais como a isenção da lógica e a adoção de uma realidade superior, chamada "maravilhosa".
Em 1929, os surrealistas publicaram um segundo manifesto e editaram a revista "A Revolução Surrealista". Entre os artistas ligados ao grupo em diferentes épocas estavam os escritores franceses, Antonin Artaud, dramaturgo, Paul Éluard, Louis Aragon, Jacques Prévert, e Benjamin Péret. Entre os escultores, encontram-se os italianos Alberto Giacometti e Vito Campanella, assim como os pintores espanhóis Salvador Dalí, Juan Miró e Pablo Picasso, o pintor belga René Magritte, o pintor alemão Max Ernst e o cineasta espanhol Luis Buñuel.
Nos anos 30, o movimento surrealista internacionalizou-se e influenciou muitas outras tendências, conquistando adeptos em países da Europa e nas Américas. André Breton, juntamente com Leon Trotski, assinou um manifesto na tentativa de criar um movimento internacional que lutava pela total liberdade na arte - FIARI: o Manifesto por uma Arte Revolucionária Independente.
Contexto
Surgiu como um movimento revolucionário que desafiou as convenções da sociedade e da arte tradicional, buscando explorar o subconsciente, o irracional e o inconsciente.
Influenciados pelas teorias psicanalíticas de Sigmund Freud, os artistas surrealistas buscavam acessar os sonhos e os impulsos mais profundos da mente humana, muitas vezes representando essas ideias de maneira visualmente perturbadora e provocativa.
O surrealismo rejeitou a lógica e a razão em favor do automatismo psíquico e da expressão intuitiva, promovendo a liberdade criativa e a espontaneidade. Os artistas surrealistas frequentemente exploravam temas como o inconsciente, o sonho, o desejo, o absurdo e o confronto com o mundo exterior.
Técnicas e Estéticas
Mulher-colher (1927) - Alberto Giacometti
Le Coqs Rouges (1935) - André Masson
Grande parte da estética surrealista apoia-se na concepção de imagem poética de Pierre Reverdy, segundo a qual a imagem nasce não da comparação, mas da aproximação entre duas realidades afastadas. E quanto mais distantes forem as realidades aproximadas, mais forte será a imagem poética. Reverdy distancia mais ainda o mundo captado pelos sentidos e o mundo criado pela poesia. Além disso, a linguagem surrealista faz grande uso de descontextualizações, esvazia-se um significante de seu significado para atingir novos e inusitados significados. Herança de Arthur Rimbaud, procuram o desregramento também das relações de significação para a emersão de uma nova linguagem. Há uma busca da expressão por meio de uma linguagem não-instrumental e uma associação de liberdade à ruptura do discursiva.
Os surrealistas usaram diferentes técnicas para ativar seu inconsciente, uma delas é o cadáver exquis (cadáver esquisito), uma técnica baseada na aleatoriedade e na coralidade, que envolve a colaboração de vários artistas: um deles começa a operação traçando um desenho, uma figura, que deve ser ignorada pelos outros; a folha deve ser passada a todos os participantes, um por um, que por sua vez formarão uma figura e assim por diante. Outras técnicas frequentemente utilizadas pelos pintores desse movimento são:
- Frottage (esfregar);
- Grattage (arranhando, raspando);
- Colagem;
- Assemblage;
- Dripping (Max Ernst é o primeiro a usar essa técnica, que ficou famosa após a Segunda Guerra Mundial por Jackson Pollock).
Fatos Interessantes
Experiências Surrealistas de Salvador Dalí: Dalí era conhecido por suas experiências surreais e extravagantes. Ele criou um filme surrealista chamado "Un Chien Andalou" em colaboração com o diretor de cinema Luis Buñuel, que inclui uma cena icônica em que uma lâmina corta um olho humano. Além disso, Dalí organizou jantares surreais, nos quais os convidados eram obrigados a usar trajes bizarros e comer pratos incomuns, como sapos e relógios de chocolate.
Exílio de Max Ernst durante a Segunda Guerra Mundial: O artista Max Ernst, um dos principais representantes do surrealismo, foi perseguido pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial por sua associação com o movimento artístico "degenerado". Ele foi preso pela Gestapo em 1940 e depois conseguiu escapar para os Estados Unidos, onde se juntou a outros artistas exilados, como Marcel Duchamp e André Breton.
O Jogo do Cadáver Esquisito: Uma das técnicas mais peculiares e distintivas do surrealismo foi o "cadáver esquisito", um jogo colaborativo no qual os artistas criavam uma obra de arte coletiva, dobrando um pedaço de papel ao meio e passando-o entre si para adicionar desenhos ou palavras. O resultado muitas vezes era uma composição surpreendente e surrealista, que refletia a natureza do subconsciente.
Comunismo: A propensão ao comunismo entre os surrealistas também foi uma característica marcante do movimento. Muitos artistas eram simpatizantes ou mesmo membros ativos do Partido Comunista em diversos países. Eles viam o comunismo como uma forma de desafiar as estruturas sociais e políticas estabelecidas e buscavam formas de expressar suas ideias revolucionárias por meio da arte.